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sábado, 22 de março de 2014

Cristão Publicitário

A publicidade está invadindo a igreja e, amigos, isso pode não ser tão legal como imaginamos...

Com a desculpa de ser um meio de promover o evangelho, muitos, muitos mesmo, a grande maioria, têm promovido apenas a si próprios. E sinto muito que isso tenha se tornado tão comum. E tenha tantos adeptos. 

Logos, fontes, fotos, câmeras, celulares e aplicativos. Todos "santos"?



Se a sua vida não for a melhor maneira de apresentar Cristo, não há estratégia de marketing que ganhe uma alma sequer pra Deus. A tentativa é convencer pessoas de que esse lado é o melhor. Mas ser Cristão não é estar do melhor lado. É sofrer pelo que é justo, santo e puro.

Tem se investido MUITO em imagem. Fazemos ações sociais, mas nos preocupamos mais em promovê-las e registrá-las do que fazer valer a pena, do que realmente ajudar o máximo de pessoas possíveis com o nosso melhor. Não quero reprimir nenhuma grande ação, reconheço a função da publicidade em muitos aspectos do evangelho. E apoio.

O ponto conflitante é que hoje todo mundo se tornou um cristão publicitário. Um promotor de eventos de sua igreja. Convidamos pessoas a participarem de nossos cultos, mas não cultuamos junto. Espalhamos nossas verdades por meio de mil redes sociais, mas não a praticamos. Queremos buscar qualquer um que passe na rua através de um pequeno pedaço de papel, mas não os acolhemos. Queremos fazê-los entrar nas nossas igrejas, mas nunca visitamos suas casas.

Não nos preocupamos em ser amigos, ou nos importar com o outro. Nos preocupamos em mostrar o que Jesus tem para oferecer, mas esquecemos que somos nós o meio de conceder o que Deus tem pra dar. E o que temos dado?

A publicidade secular se baseia em hipocrisia. O mundo quer oferecer seu melhor, mas sabemos que o melhor do mundo é podridão e escassez, pois tudo é finito. A liberdade que dão só nos prende a coisas banais, e o fim das coisas é a segunda certeza. A primeira é que nada é o que parece ser. E a terceira é que nunca sairemos satisfeitos. A propaganda sempre sugerirá que tendo aquilo que ela nos oferece, seremos felizes, ou estaremos satisfeitos. "Seus problemas acabaram", é a máxima. E hoje em dia compramos e compramos. É a atividade que mais fazemos em nossas saídas e passeios. Vivemos pra trabalhar e trabalhamos pra que? Pra comprar. 

O consumismo virou rotina. Principalmente entre os cristãos. Mas tentamos disfarçar consumismo com disseminação. Pregação do evangelho. Alcançar as pessoas das mais diferentes formas - o que não está errado, mas é necessário equilíbrio. As bases da fé cristão têm padecido por falta de conhecimento. Falsas teologias tem crescido na igreja, enganando a muitos e permitindo que a adoração visual do mundo caia até mesmo em nossos púlpitos. Não é um blog de moda, incentivando garotas cristãs a se vestirem com modéstia, mas 30 sites falando como se vestir pra cada tipo de culto de acordo com a estação vigente, tendo em mente as dicas do último NYFW. Não é uma página falando sobre saúde cristã, alimentação e a necessidade de levantar-se de uma cadeira para curtir a natureza através do exercício físico, mas centenas de imagens compartilhadas em páginas que se dizem cristãs, mostrando a mesma adoração à imagem e ao corpo como deus, e não como templo, que o mundo mostra. Não é um sermão incentivando o bom uso dos nossos recursos, incentivando a abnegação e o zelo para com os necessitados, mas várias palestras trazendo teologia da prosperidade e incentivando a ambição e o desejo de crescer financeiramente - e apenas financeiramente - mesmo em instituições confessionais.

O grande problema é que estamos mornos e hipócritas. Nos deixamos ser enganados, e nos permitimos, aos poucos, enganar. Temos medo de repreender e afastar pessoas, mas também não as amamos o suficiente para convencê-las a fazer o certo e ficar. Julgamos cada pequeno membro que age inconsequentemente, mas não aceitamos ser julgados, pois "nós temos nossos próprios motivos". Falamos mal de mil comportamentos que consideramos prejudiciais, mas nos esquecemos que falar mal é o comportamento mais prejudicial.

Somos hipócritas. Tentamos vender uma imagem de cristianismo que mal conseguimos cumprir. Uma história de sucesso que ainda está sendo construída aos troncos e barrancos e que só vai ser vista lá no céu. Buscamos o sucesso num mundo que já foi vencido, e a glória que não é nossa. E temos fobia de humilhação. Não porque fomos demasiadamente humilhados, mas porque somos demasiadamente orgulhosos. Até porque um cristão não pode temer humilhação. Pois somos passivos dela pelo evangelho. Seremos humilhados por causa de Cristo e esta deveria ser nossa única glorificação. Mas não é essa a teologia que nossa publicidade tem pregado.

O sofrimento dos primeiros discípulos difere muito dos nossos ministros bem vestidos e engravatados. E temos a mesma verdade, somos frutos dos primeiros discípulos. O que nos falta? A motivação que esses tinham. A cruz. O sofrimento. A vergonha. A dor. Não são coisas a serem temidas. Pois quando sofremos pela causa de Cristo é certo que não sofreremos pelas nossas próprias fraquezas. O nosso eu acaba virando segundo plano e vivemos como Paulo viveu, para Cristo e para o próximo. E é o que nos tem faltado.

Por que afirmo isso com tanta veemência? Porque há tempos cortei relações com publicidade secular e tudo o que a representa. Limpei minhas redes sociais de anúncios que sequer me lembravam do amor de Deus e mantive apenas o que eu estava certa de que pregava Sua palavra. E ainda assim continuo vendo e absorvendo mensagens vazias, imagens que apenas afagam o ego ou que criticam pessoas com mensagens ríspidas sem nenhuma lembrança ao fundamento cristão de amar ao próximo. Tenho me sentido discriminada por não levantar 40 quilos na academia, por não usar um vestido floral com boot nos cultos matutinos e por não ter um iPhone para registrar minha presença em Full HD no congresso de jovens do último fim de semana. Eu não me sinto acolhida pela publicidade. Eu me sinto oprimida a fazer o que eles querem que eu faça. Qual a verdadeira motivação por trás dessas mensagens? Incentivar a diversidade na igreja ou pregar um padrão cristão? Não sei se tem conseguido alcançar o objetivo, mas eu sinto que fui esquecida.

Quero mais saídas de jovens pela natureza, e menos eventos dentro de grandes salões. Quero mais eventos direcionados pra crianças ao invés de grandes musicais. Quero mais visitações a asilos ao invés de cultos especiais. Quero mais arrecadações de alimentos ao invés de construções pra igreja. Quero mais reuniões na casa de irmãos ao invés de grandes manifestações no farol. Quero mais abraços ao invés de compartilhamentos. Quero mais caronas ao invés de convites. Quero mais amor ao invés de repreensões. Quero mais estudo ao invés de cobrança. Quero mais Cristo ao invés de igreja.

Um comentário:

  1. Amei Bah! Com certeza precisamos repensar nossa prática religiosa. Que refletir o caráter de Cristo seja nosso alvo principal!

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