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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Meu querido 'Susiário': "Um dia que daria um roteiro"

Faz tempo. Mas as lembranças ainda estão frescas na minha mente. E hoje, o melhor pra mim é tirar da mente e colocar no papel.

Um dia perfeito. Se eu parar no tempo, e voltar para aquela garota da manhã seguinte à excursão, seriam exatamente essas as palavras que ela teria na boca. Ela queria estacionar no tempo. E repetir 20 vezes aquele dia.

Essa garota de hoje já não consegue enxergar todas as cenas num quadro tão bonito. Afinal, eram apenas ilusões, e já foram destruídas. Elas se foram, mas o sentimento ficou... Mian hanmida.

Posso me lembrar do desespero pré-excursão. Ah, o clássico desespero de arrumar a mochila, arranjar roupa de banho, pensar no que levar e lembrar-se sempre do quão fora de forma você está para um evento desses. Hoje eu posso rir disso.

Era só chegar lá, se unir em um grupo à procura de armários, trocar de roupa, e pronto! Todo aquele mesmo organograma de toda excursão. A parte mais emocionante é: nos dividirmos. A galera queria fazer coisas diferentes das que eu, Felipe e Silvio queríamos. Então ficamos só os quatro. Era uma forma melhor de aproveitar o parque. Era perfeito.

Rimos muito. Ele pegava no meu pé como sempre. Olhava para as outras garotas e eu fingia não ligar. Apontava os caras bonitos e eu fingia não estar interessada. Me colocava à sua frente em uma fila e me zoava pelo maiô.

Fomos juntos na boia dupla e foi sensacional. Ainda lembro-me dele gritando “Ai minha bunda!” quando a água o molhou! E quando eu falei que o brinquedo bem que podia ir mais rápido, a descida veio com tudo! Foi ironicamente demais!

Em todas as saídas de brinquedos ele dava um jeito de cuidar de mim, me ajudar a sair da água, me proteger de alguma maneira. Ele não tinha ideia do que ele estava alimentando em mim. Ele estava me ajudando a escrever um capítulo especial do meu seriado particular. O meu capítulo favorito.

A hora do almoço foi um feito histórico. Se fosse realmente um seriado, a cena da entrada no parque começaria com a monitora dando as instruções sobre o almoço e recomendando o uso de chinelos na ida ao estacionamento. Hilário.

A questão é que ninguém se lembrou dos chinelos. E chegando ao asfalto, parecia que nossos pés iriam fritar! Por providência divina, o Daniel e o Henrique se dispuseram a emprestar seus chinelos. Bem, fazendo as contas, éramos quatro. MAS... A Thaís estava prevenida, calçava chinelos. O Silvio já havia pegado os do Henrique e eu peguei os do Daniel. MAS... O Felipe Costa não se conformou em ter seus pés queimados pelo asfalto e me fez uma proposta indecente: carregar-me em suas costas! O que fez aquele anão pensar que seria capaz de me aguentar montada em suas costas e atravessar aquele estacionamento imenso? Aish. Foi cômico.

É óbvio que eu sou pesada. Aliás, eu sou maior que ele. Ai, aquele baixinho! Todos olhavam pra mim e eu morria de medo de levar alguma bronca. Desequilibrar? Várias vezes! No começo estava até confortável e divertido, mas depois de um tempo parecia que o olhar das pessoas me pesava mais e a ele também, e íamos caindo aos poucos. Eu escorregava e ele mancava. Foi uma longa trajetória. Mas eu não consigo parar de rir ao lembrá-la. Estava tão nervosa que não sentia o momento mágico pelo qual eu estava passando. Eu temia olhares, advertências e tudo mais. Recebi apenas um favor.

Uma monitora nos viu sim, mas apenas fez um comentário em tom de brincadeira. O que me atemorizou mesmo foi o Seu Olegário. Ele gritou algo e eu – obviamente em vão – tentei me esconder atrás da nuca do Felipe. Atrás da nuca? Realmente estava fora de mim naquele momento. O que ele falou? “Isso é que é homem de verdade!”. A vida sabe como ser irônica, não?

Comemos. Durante o almoço, o tópico de discussão – além do corpo das meninas, é claro – foi o ator/atriz de seriado com quem você se casaria e por quê. Ele escolheu a Megan, de Friends. Ela é maníaca por limpeza e ele é extremamente fresco. Casal perfeito. Eu? Sheldon Cooper. Porque gosto de homens inteligentes. Adivinha quem se gabou? Ele, é claro! Ah, como adora me provocar, esse menino.

Depois do almoço, veio o momento mais dramático. Engraçado, exatamente como os seriados: quando está tudo lindo, repentinamente algo terrível acontece. Nos perdemos dos meninos. E logo em seguida, eu me perdi da Thaís, minha única esperança de encontrar o Felipe sem parecer que eu estava louca atrás dele.
Eu não fiquei sozinha por muito tempo. Procurei-os por um pouco de tempo e ainda encontrei uns amigos. No final, fiquei com a galera do ônibus. Ou parte dela. A parte boa é que finalmente venci a maldita bolha! Eu a escalei! A ruim é que fiquei com dor de cabeça a maior parte do tempo, por forçar a vista ao procurar sinal deles.



Entre tantas piscinas termais, havia um balde gigante que virava água gelada em cima da gente. Antes de nos perdemos, ele me carregou pra debaixo desse balde, me abraçou e ficou esperando a água gelada chegar. Cinco vezes. Cinco baldes torturantes de água gelada. Cinco inesquecíveis abraços molhados. É assim que eu percebo que sou masoquista! Shame on me por ter deixado ele me tratar desse jeito, viu! Shame on me.
Mas foi nesse mesmo balde que algumas horas depois, depressivas já de tanto procurá-los, eles ressurgem das cinzas! Como a Thaís não estava comigo, o Silvio continuou a procurá-la. Ah, isso já estava premeditado. A Thaís mesmo me disse que o Silvio adora se perder. Tsc tsc tsc.

O Felipe continuou com a turma que ele estava, o Rick e o Gê. Uma das melhores partes começa aqui. A mais parada também. O período de maior permanência em uma piscina: a aquecida com pedras. Eu a chamava de piscina do amor, já que todos se pegavam ali. Disgusting.

E foi nessa piscina que se passou o maior momento de reflexão, palavras vãs, tentativas de entender aquela mente complexa e... GUERRA DE MORDIDAS! Eu comecei. Sei lá por quê. Ele dizia que só a Lúcia tinha esse direito, mas eu violei as regras e o mordi. E ele veio com mordidas subaquáticas, em lugares inimagináveis. Panturrilha, coxa, costas e principalmente os braços. Voltei com cerca de 8 marcas de mordida pra casa. Quando mostrei pra Rosa, ela ficou revoltada e queria tirar satisfação. Eu gargalhava. Pra mim era uma coisa boa. Eu queria que aquelas marcas ficassem em mim pra sempre. Como tatuagens. A dor era intensa, ele sempre me machuca sem dó nenhuma. Mas eu gostava. Eu deixava, porque era ele. Era como se ele estivesse marcando território. Eu era dele. Ah, masoquista. É, eu acho que sou masoquista. O Silvio tentou agitar um beijo nosso, mas você sabe como eu consigo ser durona com isso, não sabe?

Agora eu me lembro... Como começaram as mordidas. Ele tem certa natureza violenta, adora tentar me machucar. Seu golpe favorito – em mim – é gravata. Se é que eu posso chamar de gravata um golpe que para a circulação de uma veia, podendo me desmaiar em 4 segundos e me matar em mais alguns. E sim, ele é louco o suficiente pra tentar, no mínimo, me deixar inconsciente. E eu sempre deixo ele tentar. Ah, masoquista, ah! Enfim, ele me segurou, colocou o braço em volta do meu pescoço e me arrastou pra debaixo d’água. Ali, numa cena que poderia figurar um bom filme de ação, na minha cabeça a trilha sonora era outra. O rosto dele nunca esteve tão próximo ao meu. Mesmo em todas as ceninhas de sedução que ele jogava comigo, nunca o senti tão próximo. Parecia que... Ele tentaria me beijar. Minha primeira reação? Tampar a boca. E o feitiço se quebrou. Ainda senti o nariz dele na minha bochecha, mas a posição ideal já havia se perdido.

Foi assim que uma das maiores cenas românticas protagonizadas por mim não aconteceu. Pra finalizar, dei-lhe uma mordida por vingança e ele retribuiu ferozmente em minha panturrilha. Uma comédia romântica começava ali. Na volta, estávamos todos exaustos. Não compartilhei mais momentos desse tipo por conta do seu humor. Estava exausto. Deixei quieto.

No ônibus, eu amargava as lembranças do meu dia longe dele. Sufocava na minha vontade de ficar ao lado. Gritava surda, em um bocejo, que o amava. Tentava dormir e o sono não vinha. Não queria ficar sozinha. Pensei mil e uma coisas até olhar pro lado. Adormeci no peito do Gê. Ele havia sido um grande amigo durante os períodos ‘organogramacionais’ da viagem, como espera do ônibus e a estrada. Me emprestou fones, cantou e fez bagunça. Me fez sentir bem. Um bom amigo.

Acordei na parada, morta de fome. Desci. Ele surgiu do além, parecendo ter vindo de lá mesmo. Exausto, acabado e com febre. Pedindo por remédio e me deixando desesperada. Corri atrás de tudo o que fui capaz. Água. Não ria, só havia isso pra amenizar a insolação dele.

No ônibus, dei meu cobertor e fiquei bajulando-o. Humilhação pública foi ele me fazer cantar “Soft Kity”. The shame. Troquei de lugar, fiquei no banco atrás dele. Fazendo cafuné, que era a melhor coisa que eu podia fazer. O ônibus começou a andar e a minha esperança de sentar ao lado dele foi pro ralo. Mas eu sou masoquista, então me esticar totalmente torta para somente acariciá-lo já tornava o momento especial
.
Foi quando o Jackson, meu anjo, disse que o Felipe havia pedido pra trocarmos de lugar. Resultado? Felipe no meu colo pelo resto da viagem.


Ele estava ardendo em febre. Queimando mesmo. Eu não sabia se me preocupava ou se só aproveitava o momento. Por conta da febre, ele ficava desconfortável rapidamente, o que fez ele mudar de posição inúmeras vezes. Deitado no meu colo, no meu ombro, abraçado no meu tronco ou recostado no meu peito. Falava besteiras de vez em quando e eu logo bronqueava. A situação mais marcante foi quando ele recostou no meu peito. Eu acariciava seus cabelos enquanto tocava sua testa com meus lábios. Era muito quente. Anormalmente quente. Patologicamente quente. E tínhamos um grande evento no final de semana! Nossa, como isso parece um seriado! Por isso eu digo, qualquer semelhança com a coincidência é mera realidade.

Ao chegarmos, ele agradeceu milhares de vezes e eu mandei ele se cuidar. Corri atrás de remédios a semana inteira, mas parecia obra do destino eu não conseguir nada. É como se tudo tivesse sido um sonho e minha fantasia de super-heroína não coubesse mais. E tudo voltou a ser estranho. Tudo voltou a ser normal.


Ah, universo paralelo, será que eu estaria com ele se eu estivesse com você?

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